terça-feira, 18 de dezembro de 2012



Sessão Solene de Encerramento das Celebrações do Cinquentenário da OCPM
Dia Mundial do Migrante
Lisboa, 18 de Dezembro de 2012 - Fundação Calouste Gulbenkian




Homenagem da Obra Católica Portuguesa das Migrações pela vida de trabalho académico sobre migrações, pelo empenho na causa dos migrantes e pela colaboração voluntária e generosa com a OCPM.





sexta-feira, 23 de novembro de 2012


Jornal do Fundão
Semanário - Ano 67 - N.º 3458 - 22 de Novembro de 2012

Colóquio gs. 18 e 19
na fronteira entre a memória e a vida

hendaye, lugar simbólico de liberdade e placa giratória da emigração nos anos 60, foi centro de debate internacional

 Versão on line: Aqui

quarta-feira, 21 de novembro de 2012


Colóquio "Emigração Portuguesa nos anos de 1960 para França"
Homenagem pelo Comité National Français en Hommage à Aristides de Sousa Mendes


LusoJornal, Edição 104, Série II, de 21 de Novembro de 2012

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Novembro 2012

Espace culturel Mendi-Zolan - Boulevard de la Mer Sokoburu - Hendaye-Plage
16/11/2012 de 09:30 à 20:30

Colloque : Immigration portugaise des années 1960 vers la France et l’Europe





Journée de colloque à l’occasion du 50e anniversaire de l’immigration portugaise vers la France et l’Europe :
Intervenants :José Maria Costa, maire de Viana do Castelo (Portugal), Manuel Dias Vaz, président du Comité national français en hommage à Aristides de Sousa Mendes, président du Rahmi, Kotte Ecenarro, 1er vice-président du Conseil général des Pyrénées Atlantiques, Luc Gruson, directeur général de l’EPPPD-Cité nationale de l’histoire de l’immigration, Antonio Leão Rocha, consul général du Portugal à Bordeaux, Jean-Baptiste Sallaberry, maire d’Hendaye.
Les origines de l’immigration portugaise vers la France et l’Europe : Victor Pereira, historien, Maria Béatriz Rocha Trindade, sociologue, Marie-Christine Tavares, historienne.
Table ronde Apports de l’immigration portugaise à la société française : Albano Cordeiro, sociologue, Fernanda da Silva, sociologue, Élie Pedron, président de URIOPSS, membre du CESER Aquitaine, Carlos Pereira, directeur du Luso Jornal, Jorge Portugal Branco, sociologue.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012


Entre Portuguesas Num Mundo Sem Fronteiras

Associação Estudos Mulher Migrante (AEMM)






Da Mala de Cartão ao Diploma Universitário

Um rápido olhar sobre a situação emigratória em Portugal
 
O título escolhido é provocador, podendo ser considerado como estereótipo enganoso, que não traduz a realidade actual mas só uma parte dela. A sua natureza "chamativa" atrai a atenção dos que superficialmente abordam assuntos como este - a emigração portuguesa - que requer uma atenção mais profunda, se se pretende sobre eles obter um conhecimento actualizado e objectivo. Tendo a expressão sido utilizada, frequentemente, como indicador do que a caracteriza nos nossos dias, não esgota nem sintetiza a sua definição e pode conduzir a interpretações parcelares.
As extrapolações são sempre perigosas, devendo ser evitadas considerações ligeiras que atingem apenas uma parte da população alvo, sem ter em conta o conjunto das variáveis intervenientes, cuja consideração se torna indispensável. No presente, falar em "mala de cartão" remete para uma etapa da migração intraeuropeia, cujas características difíceis então vividas conseguiram ser ultrapassadas; do mesmo modo, referir o "diploma universitário" contempla apenas um segmento dos fluxos migratórios actuais que apenas integram parte dos elementos que o possuem. Uma e outra das expressões cobrem realidades segmentárias sem traduzir a totalidade da realidade complexa que a elas subjaz. Impõe-se, por isso, que um breve olhar retrospectivo seja lançado sobre o percurso histórico que as antecede, de forma a dar continuidade e fazer compreender o contexto presente.
A mobilidade constitui desde sempre uma das características da demografia portuguesa, situação que ocorre pela posição geográfica em que o país se encontra e pelas condições de desenvolvimento insuficiente que sempre o caracterizaram e o caracterizam. Nunca tendo conseguido manter dentro das suas próprias fronteiras a totalidade da população residente, que assim se viu obrigada a procurar fora delas melhores condições de vida, esta especificidade própria da sua estrutura foi-se alterando de acordo com a modificação das situações conjunturais internacionais, que em cada tempo se articulam de forma diferenciada com as nacionais. Alteram-se assim os destinos dos que partem, as condições em que o fazem, o número e a composição que integra cada um dos fluxos migratórios.
Nem sempre se tem querido ver as condições reais que, de uma forma ou de outra, motivam a partir; as situações em que ocorrem as saídas; quem integra as correntes migratórias, o volume que cada uma delas assume; o sofrimento que acompanha o afastamento físico dos que se deixaram; enfim, tudo o que faz deslocar os nacionais do seu próprio país para um outro que não é seu. Em síntese, não querendo reconhecer as condições tão desfavoráveis que sempre têm ocorrido, surgem razões em forma de justificação que procuram explicar de modo simplista e desadequado este contínuo movimento de gentes. Entre elas, lembre-se o tão invocado "espírito de aventura", considerado como próprio dos Lusitanos, que fez descobrir novos territórios em vários continentes, que levou a trabalhar em minas, na agricultura e na construção civil, tudo numa tentativa de desresponsabilização política. À travessia transoceânica seguiram-se os caminhos pela Europa que levam à diversidade de destinos onde se encontram hoje os mais de 5 milhões e 500 mil homens e mulheres de origem portuguesa.
Estes Portugueses integram uma grande diáspora – a Diáspora Portuguesa – porque vivendo longe do país reclamam a ele pertencer - uma origem assumida sem vergonha e fazem-no com orgulho, demonstrado publicamente. Os valores que evocam constituem guião do seu modo de viver e muitos dos muitos elementos da herança cultural que transportam por legado de ascendência é transmitido às gerações mais novas que os recriam e enriquecem.
Portugal nunca interrompeu a sua emigração e embora tenha decrescido o número de emigrantes durante o período que se situa após a Revolução dos Cravos (Abril de 1974) vem a adquirir de novo a pujança que a caracterizou no início da segunda metade do século passado.
Não pode dizer-se que a actual pode ser comparável à que teve lugar nesse período, uma vez que a composição de uma e de outra é diferente. Em vez de uma mão-de-obra não qualificada, desejada pelos países do Centro e do Norte da Europa, para a reconstrução que se impunha, os que hoje saem de Portugal têm uma preparação muito diversa em que, naturalmente muitos dos elementos possuem uma maior qualificação académica, uma vez que Portugal foi capaz de oferecê-la aos jovens nestes últimos anos. A falta de oportunidades e o desemprego que ocorre numa linha contínua e crescente é responsável pela situação que ocorre. Para além disso, um grande número de mulheres integra os fluxos que se dirigem para países muito mais diversificados, embora os tradicionalmente procurados continuem a atrair os que saem do país.
Taxa de desemprego Trimestral em % de Portugal (INE) e da Zona Euro-17países (BCE)
Nunca será de mais lembrar que as condições de comunicação permitem a circulação da informação e encurtam as distâncias. O que era longe e difícil tornou-se acessível. Os meios de transporte com preços competitivos facilitaram a circulação. E, para além disso, muitos núcleos de compatriotas ou gente com quem anteriormente se mantinha uma relação familiar ou de vizinhança constitui não só um incentivo para a partida como um ponto de apoio para a primeira fixação, que pode até assumir-se como de carácter ilegal numa primeira fase.
A leitura dos jornais, semanários e diários, as notícias emitidas pela rádio ou visionadas na televisão, a consulta on line, dão conta do número de anúncios que publicitam a existência de postos de trabalho livres em países estrangeiros. O mesmo acontece com feiras de emprego organizadas em Portugal, onde numerosos recrutadores estrangeiros instalados em stands, concorrem entre si através de intermediários ou de modo directo, oferecendo condições de trabalho tentadoras, pela estabilidade assegurada, salário atractivo e ensino de língua entre outras ofertas vantajosas e aliciantes. Todos eles referem a necessidade de uma mão-de-obra qualificada a nível académico ou outro.
Entre a primeira destaca-se a área da saúde (médicos, dentistas, enfermeiros, farmacêuticos) e da engenharia civil e arquitectura. No entanto, não pode esquecer-se que muitas outras relacionadas com a prestação de serviços (de que a restauração constitui um bom exemplo) recrutam Portugueses. Torna-se importante salientar que o interesse demonstrado pelos trabalhadores de nacionalidade portuguesa reflete o apreço em que é tido o seu trabalho, sendo a qualidade reconhecida a nível internacional.
A presença portuguesa em todo o mundo é um facto indiscutível. Embora a diversidade se instale, os tradicionais destinos da sua emigração avolumam-se: Brasil e França, constituem os dois pólos eleitos, visivelmente recortados, o primeiro revelando a preferência transoceânica e o segundoo, uma preferência além-Pirinéus. O maior número dos que são de origem portuguesa reside nos Estados Unidos da América.
Novos caminhos se abriram - uns retrocedendo, como foi o caso de Espanha, outros progredindo como é o caso de Angola. Portugal continuará a ser um país de migrações sem fim, como afirmou em 1999, Manuela Aguiar.
O projecto de regresso por muitos imaginado como definitivo assume hoje várias formas, traduzidas por movimentos pendulares cujo espaço se encurta e o ritmo se acelera. Através das facilidades tecnológicas que transportam os que estão longe para mais perto e permitem com eles estabelecer um permanente convívio as saudades menorizam-se.
O futuro trará certamente novas configurações a esta mobilidade que nunca deixará de levar para fora do território os elementos de uma nação sem fronteiras físicas que, através de fortes laços emocionais, assegura uma presença que se estende a todo o mundo e nele deixa as marcas produzidas pelo seu sentimento de pertença.
                                               Maria Beatriz Rocha-Trindade
Universidade Aberta - CEMRI




Entrevista concedida à Jornalista Maria do Carmo Rodrigues do Jornal Tribuna da Madeira, Funchal.
Outubro de 2012.
Matéria aqui publicada,na íntegra, devidamente autorizada.







Entrevista: PROFESSORA DOUTORA MARIA BEATRIZ ROCHA-TRINDADE--Maria do Carmo Rodrigues



Encontra-se entre nós a Professora Doutora Maria Beatriz Rocha-Trindade, reconhecida internacionalmente como socióloga das migrações, autora de vasta bibliografia, desde livros a artigos publicados em revistas tanto nacionais como estrangeiras, sobre a problemática emigração/imigração.

Licenciada em Ciências Antropológicas e Etnológicas pela Universidade Técnica de Lisboa; doutorada em Sociologia pela Faculté des Lettres et Sciences Humaines de Paris – Université René Descartes – Paris V Sorbonne; agregada em Sociologia pela Universidade Nova de Lisboa; professora catedrática na Universidade Aberta (atualmente aposentada), aí organizou (1990) e dirigiu o Mestrado em Relações Interculturais e o Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais/CEMRI, Unidade de I&D da Fundação para a Ciência e a Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

É professor convidado da École des Hautes Études em Sciences Sociales de Paris; vice-presidente do Committee on Research Migration da International Sociological Association.

Titular da Ordre National du Mérite de França, com o grau de Chevalier, e da Grã-Cruz da Ordem de Instrução Pública de Portugal, eis em linhas gerais o percurso da socióloga Professora Doutora Maria Beatriz Rocha-Trindade que nos recebe com a simplicidade do seu estar no mundo. “Eu sei que nada sei” é o que nos diz o sorriso.


PROFESSORA DOUTORA MARIA BEATRIZ ROCHA-TRINDADE


- Boas-vindas, senhora Professora! Agradecemos a sua disponibilidade para esta conversa. O historiador português Vitorino Magalhães Godinho, refere que no século XVI a presença portuguesa se verificava desde o Brasil ao Japão, da Terra Nova ao Peru, dos Países Baixos a Moçambique e à Abissínia, de Ormuz e da Pérsia a Timor e às Filipinas, do Rio da Prata a Sevilha e ao interior de Castela. Do século XVI até hoje tem sido constante a diáspora… Podem os portugueses dizer como o filósofo grego: “não sou nem ateniense, nem grego, mas sim um cidadão do mundo”?

MBRT – Se em Portugal for lançado um olhar retrospectivo e recordada a permanência da mobilidade dos seus nacionais, será percorrido o longo itinerário geográfico que os levou desde a saída do território a todas as partes do mundo.
Primeiro, a expansão e a descoberta de novos territórios; depois, a fixação de gentes, tendo em vista o povoamento que permitiria a instauração e a continuidade do poder político.
Delimitadas as fronteiras e adquirida a independência por parte de muitos desses territórios, os mesmos continuaram a ser procurados, dessa vez, como destino de emigração. Os que não a adquiriram permaneceram como colónias, assegurando uma presença colonial. A emigração transoceânica, que do Índico passou para o Atlântico transfere em data posterior, em meados do século XX, a visibilidade que a caracterizava para um novo espaço – o espaço europeu. O Brasil, passa a partir de 1963 a ser substituído pela França, na qualidade de país que acolhe o número mais significativo de emigrantes portugueses.
Os mais de cinco milhões e quinhentos mil emigrantes de origem portuguesa que se encontram espalhados por todos os continentes, em fixações que se articularam de forma diferente porque as conjunturas sociopolíticas que caracterizavam cada uma das épocas em que se produziram eram também diferentes, mostram a capacidade de adaptação que é própria dos portugueses e como não deixando de o ser conseguem articular a pertença a duas pátrias: a que foi sua por nascimento e a que adquiriram por vivência no país onde passaram a residir.
Hoje, em que o conceito de mundo globalizado e todas as inovações tecnológicas existentes, permitem a aproximação física e emocional dos que se encontram fisicamente separados os portugueses poderão mais do que nunca considerar-se e ser considerados como cidadãos do mundo.

- Sabemos que a senhora Professora é sensível ao sofrimento daqueles que rompem ligações afetivas e enfrentam o desconhecido na procura de uma nova existência. Gostaríamos de ouvi-la…

MBRT – Embora considere que o sentimento é manifestado de diferentes formas, que tornam mais ou menos visível o que "vai na alma" de cada um, é inegável que uma separação, acrescida da mudança de ambiente e de novos relacionamentos pessoais e sociais a que ela obriga, não é um processo fácil. O sofrimento que produz, embora podendo assumir várias gradações, está sempre associado a tal situação.
Dizem-no todos os que tiveram que abandonar o seu meio de origem, a sua família, os seus amigos. Descrevem tal sensação os autores que em prosa ou em verso tentam interpretar as dificuldades resultantes de uma separação. O que é imposto produz um sofrimento diferente daquele que é feito por opção. No caso presente há, por isso, que atender às condições que levam ou mesmo obrigam a emigrar, e àquelas que são encontradas no destino, enquanto se passa a ser imigrante.
Embora a sensibilidade individual seja diferente e os modos de exteriorização se façam também de maneira diversa, creio que não poderemos deixar de considerar como universal o sofrimento que advém do rompimento das ligações afetivas e conduz ao desconhecido, na procura de uma nova existência.
- Portugal não tem sido apenas palco de partidas. É anterior à era cristã a existência de diferentes grupos étnicos no atual território português. A partir do século VI registam-se os primeiros vestígios da presença de judeus, depois as comunidades ciganas, os escravos negros, além de outros contingentes europeus até ao fluxo imigratório resultante da independência das antigas colónias portuguesas. Quer comentar a atualidade?

MBRT – A mobilidade não constitui uma particularidade do nosso país. Como bem diz, antes de o ser (fundação de Portugal e estabilização das fronteiras de 1139 a 1249) muitos povos foram sucessivamente ocupando o espaço ibérico que veio a constituí-lo. A História fez com que os portugueses contactassem muitas populações, com que se cruzaram dentro e fora do país. A presença de portugueses no mundo e a permanente interacção existente com os que dele eram originários deram continuidade ao processo de miscigenação que deu lugar ao património genético que herdámos.
Às motivações que os levaram a partir e às condições que proporcionaram a fixação de portugueses em territórios submetidos ao seu poder político, sucederam-se factos responsáveis pela reversão da situação e influxo das suas gentes que se dirigiram a Portugal. Como país colonial que deixou de o ser, acompanhou muitos outros países europeus, tais como França, Bélgica e Grã-Bretanha, que de exportadores se vieram a tornar receptores. A partilha cultural que, de certo modo foi feita, o conhecimento da língua e alguns contactos pessoais previamente estabelecidos constituíram motivações para que os antigos países colonizadores fossem considerados como um destino mais acessível para uma mudança e melhoria de vida.
As oportunidades oferecidas em cada um deles deram lugar a que a mão-de-obra que os procurava, por esta e por outras condições, a eles tivesse acedido.
Depois da revolução democrática (1974) e das independências que se lhe sucederam Portugal acolheu muitos imigrantes do continente africano e de muitas outras origens, entre as quais se destaca o Leste Europeu. O número das nacionalidades de origem ultrapassa a centena.

-Fale-nos do CEMRI – Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais que fundou e dirige...

MBRT
- O Centro de Estudos da Migrações e das Relações Interculturais é uma instituição científica e de desenvolvimento, formalmente reconhecida pela então Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, em 1994. Actualmente, a unidade é acreditada e financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia/FCT, sendo o espaço de acolhimento a Universidade Aberta.

A sua missão funda-se em duas premissas principais: em primeiro lugar, o desenvolvimento da investigação teórica, empírica e aplicada das migrações e das relações interculturais em cinco áreas de investigação que incluem o estudo dos fenómenos de emigração e imigração, estudos do género, saúde e desenvolvimento, antropologia visual e comunicação intercultural, investigação realizada tanto no contexto da sociedade portuguesa bem como a nível internacional, com destaque para os países de língua oficial portuguesa; em segundo lugar, o envolvimento e a articulação entre a actividade científica, a sociedade civil e as instituições públicas da sociedade portuguesa.
O CEMRI conta com uma equipa de investigadores com formação em diversas áreas disciplinares, no domínio das Ciências Sociais e Humanas, potenciando, assim, o contributo de vários saberes para a constituição de um programa de investigação multidisciplinar e interdisciplinar.
Importa salientar que em Portugal este Centro foi o primeiro núcleo de investigação sobre a temática que o designa, as migrações constituem hoje um ponto presente na agenda dos políticos, uma grande preocupação na área do social e na da educação e têm sido motivo de estudo alargado por parte de académicos e instituições, das quais foi pioneiro.

- Para os teóricos do capital humano, o mercado de imigração não opera ao acaso sobre a escolha dos indivíduos; a seleção operada não é portanto aleatória. Que fatores intervêm no movimento migratório?

MBRT – Em regra nada acontece por acaso. E até as próprias opções que julgamos muitas vezes serem fruto de uma escolha pessoal, resultam do conjunto de condições que as produzem. No caso do fenómeno migratório a variabilidade das condições em que ocorre cada um dos fluxos varia no tempo e no espaço.
A sua existência deve-se a uma articulação de interesses, infelizmente nem sempre equilibrada que, embora devendo sê-lo, poucas vezes satisfaz as duas partes de igual forma. Estão em jogo dois países; o que precisa de libertar mão-de-obra excedentária (país de emigração) e o que tem necessidade de a receber (país de imigração). Para além disso, existem os próprios migrantes que se consideram como "decisores" mas que frequentemente integram fluxos, cuja orientação e encaminhamento ultrapassa a sua própria opção pessoal. A selecção dos imigrantes não é aleatória.

- Michael Piore (1979) é um dos pioneiros das teorias do mercado de trabalho dualista. Pode falar-nos dos dois segmentos do mercado do trabalho: o primário e o secundário?

MBRT – Em cada época e em cada espaço os países receptores procuram que a eles acedam trabalhadores do sector primário ou do secundário, tudo dependendo da preparação e qualificação dos seus residentes e da mão-de-obra que lhes é necessária para assegurar o desenvolvimento ambicionado.
A título de exemplo, lembre-se que os portugueses na segunda metade do século XIX se dirigiram para o Sul do Brasil, tendo-se encaminhado para o pequeno comércio e para trabalhar nos grandes cafezais da região de S. Paulo, em continuidade aos que anteriormente tinham explorado as minas no centro do Brasil.
Subsequentemente, na segunda metade do século XX, a Europa recebeu mão-de-obra portuguesa não qualificada, para reconstruir países que receberam apoio através do plano Marshall. A "mala de cartão", imagem do estereótipo dos migrantes desse tempo, passou a ser substituída pelo "diploma académico" dos que agora irão preencher lugares vagos, muito diferentes dos anteriores, que exigem alta qualificação e se encontram disponíveis em países estrangeiros.
De qualquer forma, sempre existiu uma diversificação na qualificação dos que integram os fluxos migratórios, sendo que a distribuição das respectivas categorias ocorre em proporções diferentes.

- Em qualquer circunstância é possível citar Fernando Pessoa. Diz o poeta que “as nações todas são mistérios, cada uma é todo o mundo a sós”. Os emigrantes portugueses enfrentam uma grande solidão?

MBRT – Todas as situações são desiguais, por isso uns enfrentarão e outros não.
Com a admiração que todos temos por Fernando Pessoa não podemos confundir poesia com realidade. O que caracteriza o fenómeno migratório é a variabilidade dos elementos que o compõem e a diversidade das suas situações vividas. Nesta área existem grandes sucessos e terríveis insucessos. Temos que nos congratular com os primeiros e sentir profundamente a dor dos segundos. A minha posição é não criar estereótipos e olhar atentamente com grande respeito e flexibilidade cada uma das realidades que procuro conhecer ou de que apenas sou espectadora.

- Em que medida está protegida a língua portuguesa que, segundo o mesmo poeta, é a nossa pátria? Que apoios recebem os nossos emigrantes para uma aculturação? E em que países, esta é mais atuante?

MBRT – A língua portuguesa que é "nossa", não constitui uma propriedade individual. Adquire-se por nascimento e aprendizagem (língua materna) e é cultivada ao longo da vida pela comunicação que estabelecemos com os outros. Perante as circunstâncias em que é praticada, o país e região em que é falada e as formas de aprendizagem proporcionadas a cada um de nós, os meios de expressão são diferentes.
Actualmente falam Português entre 240 a 250 milhões de pessoas. Será interessante recordar que no Brasil 200 milhões de pessoas a falam. Curioso será também dizer que foi um brasileiro, José Aparecido de Oliveira, natural de Minas Gerais e embaixador do Brasil em Portugal, que criou em 1996 o espaço da Lusofonia - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa/ CPLP.
Esta instituição tem sede em Lisboa, embora a coordenação se faça de forma rotativa. Integra desde a sua constituição 7 países, aos quais se veio a juntar Timor, por seu pedido, a partir de 2002.
No momento presente a instituição "Camões" - Instituto de Cooperação e de Língua Portuguesa (Lei Orgânica de 2012) procura garantir o ensino de Português ou prestar-lhe apoio, o que é feito de formas diferentes.
O ensino que dele depende garante a existência de uma rede de cerca de 400 professores no estrangeiro, que leccionam cerca de 57 mil alunos na Europa e na África do Sul. Mas muitas outras formas existem para apoiar o ensino da língua, tendo que ser consideradas país por país as vias pelas quais se realiza.
Embora os E.U.A. e o Canadá não façam parte da rede acima referida, pois são as próprias comunidades que asseguram o ensino, quando o mesmo não se encontre integrado na rede oficial local, o Instituto assegura, no entanto, a existência de uma Coordenação de Ensino e oferece em muitos casos materiais didácticos.
Em França, o Governo Português mantém cerca de 90 professores, o mesmo acontecendo na Alemanha, embora a situação seja variável de Estado para Estado.
Como vêm o apoio oficial é muito diversificado mas, em minha opinião, o que é verdadeiramente importante é a colaboração da família na transmissão da língua. Torna-se indispensável que a comunicação adoptada em família seja feita em português. Se assim não for de que servirá a aprendizagem espaçada em meio escolar?

- Relativamente aos imigrantes que escolhem Portugal… Quais os meios de integração que lhes são propostos?

MBRT – A integração faz-se por várias formas e exige um conjunto de circunstâncias que a podem facilitar ou dificultar. A nível pessoal e social, a procura de uma comunidade da mesma origem que muito poderá ajudar nos primeiros tempos de residência e de inserção, também poderá, por outro lado, conduzir o imigrante a um espaço circunscrito para onde são transferidos os hábitos de origem que, repetidamente executados, não promovem o desejável diálogo com a sociedade residente e tornam mais lenta a adaptação.
A nível político, a criação do Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural – ACIDI (que se sucedeu ao SCOPREM e ao ACIME) constitui uma decisão política de altíssimo valor. A crescente descentralização tomada pela coordenação central permite alargar, sobretudo a Norte do Tejo, um apoio directo e individual aos imigrantes residentes. Embora lhe tenham sido afectos fundos significativos, o assegurar um trabalho tão disperso e variado torna-se uma tarefa difícil de cumprir e que nem sempre satisfaz a totalidade dos elementos do público-alvo a que procura dar cobertura. No entanto, o reconhecimento a nível internacional é muito bom e Portugal encontra-se entre os países que melhor actuam neste campo.
Ao ACIDI está associado o Observatório da Imigração, cujos trabalhos de investigação publicados, através de protocolos estabelecidos com várias universidades e outras instituições, constituem um património cultural que fundamenta as decisões políticas

- A cor da pele é uma insignificância perante os valores morais e culturais, que esses sim distinguem os homens, mas a rejeição do diferente foi uma constante na história das relações entre os povos... O racismo continua a dividir a humanidade?

MBRT
– Sem qualquer dúvida. Muitos daqueles que dizem não o ser traem essa falsa convicção, por afirmações que demonstram preconceitos relativamente à diferença. O próprio título de muitos livros e artigos, que de forma alargada traduzem a ideia de "Nós e os Outros" revelam a permanência de uma inquietação que infelizmente desde sempre existiu. Muitas deverão ser as iniciativas e as práticas que sejam implementadas, no sentido de, pelo menos minorar um sentimento que tanto contraria o bom entendimento e a eunomia.


- “Se eu percorrer todas as nações, encontrarei, por toda a parte, costumes diferentes e cada povo, em particular, julgar-se-á necessariamente na posse do melhor costume”. Em que medida este testemunho de Helvetius (1727) se mantém atual?
MBRT - Mantém a perfeita actualidade. Não há homens nem sociedades iguais. Se pensarmos de outra maneira criar-se-á um desfasamento entre o nosso ideal e a realidade o que conduzirá a decepções. A verificação de uma tal situação constitui o objecto da antropologia cultural e social. Depende de cada um e de cada qual o julgamento de si próprio e dos outros. Os valores considerados como absolutos e a capacidade de relativização são julgamentos que dependem de uma opção individual.

- Quer falar-nos da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa?

MBRT – Antes de falar da CPLP, permitia-me lembra-lhe o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) com sede em Praia, capital de Cabo Verde. Os seus objetivos são, conforme os estatutos, "a promoção, a defesa, o enriquecimento e a difusão da língua portuguesa como veículo de cultura, educação, informação e acesso ao conhecimento científico, tecnológico e de utilização oficial em fóruns internacionais".
A sua criação foi proposta em 1989 pelo então Presidente da República do Brasil, José Sarney, durante a primeira cimeira daquela organização internacional, realizada em São Luís do Maranhão. No entanto, só 10 anos depois, por ocasião da VI Reunião Ordinária do Conselho de Ministros da CPLP, em São Tomé e Príncipe, o Instituto foi finalmente criado.
A CPLP integrou inicialmente 7 estados: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, situados no continente europeu e americano. Posteriormente a eles veio juntar-se Timor. A ideia da criação de uma Comunidade reunindo os países de língua portuguesa – nações irmanadas por uma herança histórica, pelo idioma comum e por uma visão compartilhada do desenvolvimento e da democracia – já tinha sido referida por diversas personalidades.
Em Fevereiro de 1994, os ministros dos Negócios Estrangeiros e das Relações Exteriores, reunidos pela segunda vez, em Brasília, decidiram recomendar aos seus Governos a realização de uma Cimeira de Chefes de Estado e de Governo com vista à adopção do acto constitutivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
A CPLP assume-se como um projecto político cujo fundamento é a Língua Portuguesa, vínculo histórico e património comum dos Oito – que constituem um espaço geograficamente descontínuo, mas identificado pelo idioma comum. Esse factor de unidade tem fundamentado, no plano mundial, uma actuação conjunta cada vez mais significativa e influente. A CPLP tem como principais objectivos a concertação política e a cooperação nos domínios social, cultural e económico.

- Na sua opinião de leitora, quais os escritores da lusofonia e respetivos títulos que nos recomenda, a nós que gostamos de ler?

MBRT – O grande produtor literário no espaço da lusofonia é o Brasil e embora o seu berço se tenha situado em Portugal, essa literatura influenciou, sem dúvida, os outros escritores que integram esse espaço. Ouvido Mia Couto, em Salvador da Baía (Congresso Luso-Afro Brasileiro, Agosto de 2011) fiquei com a convicção que toda a produção do Brasil tinha atravessado o Atlântico e transmitido a inspiração que deu continuidade a escritores como Jorge Amado, grande amigo de seu pai.
Sou uma fã de Mia Couto. Calcule que agora até tenho a sorte de ter uma neta com esse nome, Mia (embora o dele seja pseudónimo...Amores por um gato que foi seu companheiro de infância).
Mas muitos outros poderia citar, José Eduardo Agualusa (As mulheres do meu Pai, Passageiros em Trânsito, Vendedor de Passados). E se recuássemos um pouco mais atrás e nos situássemos no Mindelo, São Vicente, onde os que integraram o grupo "Claridade", deixaram tanto para ser lembrado e para nos deliciar...? Impossível cobrir um espaço tão rico e proceder a enumerações exaustivas. Muitos ficam de fora... Não posso, no entanto deixar de mencionar António Carreira, meu amigo de muitos anos, com quem partilhei os almoços de sábado durante muitos anos neste Bairro de Campo de Ourique, onde vivo, e que para além de ser lisboeta era também um pouco cabo-verdiano nos anos 70. Português e Crioulo, eram ouvidos em todas as ruas. Que mais posso dizer?

- Sabemos que em congressos nacionais e internacionais, a senhora Professora Maria Beatriz é sempre uma defensora da paz. Para terminar esta sua conversa com os leitores do semanário Tribuna da Madeira,
pedimos-lhe uma mensagem de PAZ, como tema de reflexão.

MBRT – Concorda, certamente, que é bom ser idealista e desejar que as coisas boas aconteçam, ainda que elas sejam difíceis de alcançar. Faz parte da minha própria natureza.
Desejo, muito sinceramente, que a Tribuna da Madeira continue a ser o excelente órgão de comunicação social que leva a informação a públicos alargados, dispersos no âmbito da diáspora madeirense que integra e valoriza o vasto espaço lusófono.


Senhora Professora Maria Beatriz Rocha-Trindade, obrigada pelo tempo que nos concedeu.
Obrigada pela sua compreensão para com o sofrimento dos que partem e tem procurado amenizar. Pela generosidade do seu percurso de vida dedicada às migrações.
Estaremos na plateia atentos à conferência Somam-se as Pátrias, com o apreço que a sua obra nos merece, desde sempre.
Maria do Carmo Rodrigues


*) Sociologia das Migrações por Maria Beatriz Rocha-Trindade (1995)
Interculturalismo e Cidadania em espaços lusófonos, coordenação de Maria Beatriz Rocha-Trindade
Educação Intercultural de Adultos, organização de Maria Beatriz Rocha-Trindade (1996)

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

7 de Novembro de 2012, Funchal
 
Madeira
CEHA - Centro de Estudos do Atlântico

Conferência "As Nossas Pátrias", por Maria Beatriz Rocha-Trindade (07-11-2012; 18:00)

 

 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Conferência: “Somam-se as Pátrias”: “Somam-se as Pátrias”

Data: 31/10/2012
Hora: 18:00
Local: Sala do Senado da Universidade da Madeira



'Somam-se as Pátrias',  abordará o tema das migrações, "um dos mais poderosos factores de mudança cultural, tanto mais eficaz quanto maior for o período de permanência em qualquer dos países abrangidos nos respectivos ciclos de mobilidade".
Oradora: Professora Catedrática Beatriz Rocha-Trindade

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

19 de Outubro de 2012, Palácio de Ceia, Lisboa
CEMRI - Uab

Seminário Internacional “Cidades Multiculturais: Brasileiros em Lisboa e Portugueses em São Paulo – Perspetivas comparativas


Inserido num projeto de parceria CEMRI/Universidade Aberta (Portugal) e Diversitas/Universidade de São Paulo (Brasil). Os trabalhos decorrerão em videoconferência entre Lisboa e São Paulo. O evento terá lugar, em Lisboa, na sede da Universidade Aberta (Palácio Ceia), Auditório 3, nos dias 18 e 19 de outubro 2012, das 14h00 às 17h00.

sábado, 13 de outubro de 2012

13 e 14 de Outubro, Montevideu

Encontro das Comunidades Portuguesas do Cone Sul Seminário sobre solidariedade

A 13 e 14 de outubro, a Casa de Portugal de Montevideo, acolhe o XXIV Encontro das Comunidades Portuguesas do Cone Sul, no Uruguai.



Como tem vindo a acontecer há 24 anos, as comunidades portuguesas residentes no Uruguai, Argentina e sul do Brasil, reunem-se para reforçar o elo de ligação entre os emigrantes portugueses do cone sul do continente americano...



sexta-feira, 5 de outubro de 2012

 3.º CONGRESSO PAMPILHOSENSE

«Associativismo Pampilhosense – Servir o Futuro»

5 e 6 de Outubro de 2012

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

2012 Cracow, Poland, September 26- 30

Association of European Migration Institutions Annual Conference - Cracow 2012





Themes:
1. How lessons from the past may help address questions related to migrations today.
Issues like integration, assimilation, segregation, multiculturalism, cultural pluralism, xenophobia and problems of the third generation immigrants were already discussed during time of the great migration by historians like Louis Adamic and Marcus Lee Hansen.
2. Shaping Europe´s identity: Internal migrations - past and present.
Internal migrations involved about half or more of the total European populations by the middle of the 1800s, and transborder migrations was particularly high for Poles and Italians. The rebuilding of
Europe after World War II, the creation, and later enlargements of EU, the Balkan wars, the dissolution of the Soviet Union, and the present global financial crisis, have in various ways established new forms of mobilities.