Encontro de Agentes
Sociopastorais das Migrações
C O N C L U S Õ E S
“Aventuras
e desencantos na emigração” foi o tema do XIV Encontro de Formação de Agentes
Sociopastorais das Migrações, que decorreu na Casa Diocesana de
Albergaria-a-Velha e na Sé de Aveiro nos dias 17, 18, 19 de janeiro de 2014.
75
participantes, oriundos de 14 dioceses de Portugal (Cáritas Diocesanas e
Paroquiais e Secretariados Diocesanos da Mobilidade Humana) e uma dezena de
organizações católicas, participaram nos trabalhos que contaram com contributos
das Missões Católicas de Língua Portuguesa da Suíça e Luxemburgo.
D.
António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro, diocese marcada pela emigração,
acolheu a realização desta iniciativa que contou também com a presença de D. António
Vitalino, bispo de Beja e membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social e
Mobilidade Humana.
Este
encontro procura dar visibilidade à Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado,
que este ano assinala a centésima edição. “Migrantes e Refugiados: rumo a um
mundo melhor” é o tema da mensagem do papa Francisco para este dia.
Histórias
da emigração narradas na primeira pessoa e estudos apresentados fornecem os
seguintes indicadores:
-
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, entre 2010 e 2011 a
emigração aumentou 85% em Portugal, ano em que saíram 44 mil pessoas; em 2012,
esse número subiu para 121.418, sobretudo jovens com menos de 30 anos;
-
Segundo a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, 4.795.273 é o total
estimado de portugueses residentes no estrangeiro;
- As
migrações não são um fenómeno periférico às sociedades, mas estrutural e
estruturante, transformando-as em eminentemente multiculturais e
inter-religiosas;
- A
saída de quadros qualificados não acontece apenas em setores profissionais, mas
também na Igreja, provocando o risco de alguma “desertificação pastoral”;
- A
atual visão política da emigração focaliza apenas um setor, o economicista e de
elite, acentuando o que as comunidades portuguesas podem dar ao país e provocando
o esquecimento de outras tipologias e perfis diferenciados;
-
Campanhas de informação preventiva em ordem a uma emigração segura não têm
impedido a ocorrência de situações de exploração de mão-de-obra, tanto no
recrutamento como no decurso da prestação laboral, como o comprovaram os
testemunhos apresentados;
- Na
Igreja, o migrante passou de objeto de assistência pastoral a sujeito de pleno
direito, com responsabilidades e protagonismo na evangelização, realizando a
catolicidade da mensagem do Evangelho.
Motivados pelos desafios que se colocam à Igreja e à
sociedade pelas novas mobilidades, os agentes sociopastorais das migrações
comprometem-se a:
-
Conhecer melhor a dimensão da emigração portuguesa, quase ausente das agendas
política e eclesial nas duas últimas décadas;
-
Analisar novas tendências, perfis e percursos migratórios, com vista a
respostas inovadoras fruto de parcerias institucionais que envolvam a Igreja,
academias e observatórios;
-
Desenvolver campanhas de informação adequadas e acessíveis à diversidade de
destinatários que hoje recorre à emigração;
-
Retomar a importância das migrações em toda a pastoral da Igreja, adequando as
estruturas e os planos aos novos fluxos migratórios, dando particular atenção
ao diálogo inter-religioso e à pastoral intercomunitária;
-
Alargar as boas práticas de acolhimento e integração eclesial dos migrantes, já
ensaiadas em algumas paróquias, a todos os setores da pastoral da Igreja;
-
Criar nas comunidades equipas de acolhimento e de informação e Grupos de
Interajuda Social (GIAS) para quem parte, chega ou regressa;
-
Gerar sinergias entre paróquias, missões católicas, associações, rede consular,
sindicatos, municípios e órgãos comunicação social que permitam denunciar casos
de exploração laboral, tráfico de pessoas e precariedade social ou familiar,
procurando respostas adequadas e completas aos cidadãos em mobilidade;
-
Pensar a emigração não dissociada de uma política de desenvolvimento económico
sustentável e integral, responsabilizando assim todos os cidadãos pelo processo
migratório;
-
Repensar a emigração de forma positiva, apresentando-a numa dimensão
politicamente transnacional e eclesialmente intercomunitária.
Na
última conferência do XIV Encontro de Formação de Agentes Sociopastorais das
Migrações, aberta a toda a sociedade aveirense na catedral diocesana, D. Manuel
Clemente, patriarca de Lisboa e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa
analisou o tema da mensagem do Papa, apresentando uma visão personalista das
migrações onde os emigrantes, mais do que números, são pessoas. Esta visão
qualitativa desafia a Igreja para uma cultura do encontro e da valorização de
relacionamentos positivos entre os vários intervenientes no acolhimento,
respeito e participação “rumo um mundo melhor”.
Na
eucaristia dominical, presidida por D. Manuel Clemente na Sé de Aveiro, os
agentes sociopastorais das migrações e a comunidade local celebraram a 100ª
Jornada Mundial do Migrante e Refugiado.
O XV
Encontro de Formação de Agentes Sociopastorais das Migrações foi anunciado para
os dias 16, 17 e 18 de janeiro de 2015, a realizar na diocese de Setúbal.
Aveiro, 19 de janeiro de 2014