Sociedade de Geografia de Lisboa
No âmbito dos estudos em Ciências Sociais os dados
qualitativos enriquecem a interpretação de qualquer fenómeno, pelo que são de
privilegiar as declarações escritas que até nós chegam por via de relatos
pessoais.
Foi o que aconteceu com o manuscrito apresentado numa
conferência pela socióloga Prof.ª Doutora Maria Beatriz Rocha-Trindade, coordenadora
do "Grupo Migrações" da Sociedade de Geografia de Lisboa e pelo
historiador Dr. Amílcar Baião Pinto, no passado dia 20 de abril.
Uma viagem realizada pelo seu avô materno (Amílcar
Cortez Pinto) que se desloca de Leiria a Angola para procurar melhorar as
condições de vida e, sobretudo, assegurar o seu futuro, constitui objeto de
análise e é utilizado como paradigma do movimento emigratório que então tinha
lugar.
As várias etapas do percurso realizado no fim do
século XIX encontram-se registadas nas 57 páginas manuscritas do documento,
cuja riqueza de conteúdo foi exposta e analisada recorrendo à projeção de
imagens da época.
Seduzido pela expectativa de encontrar em África um
"futuro ridente", parte do continente para as colónias seguindo a
sugestão apresentada por um amigo de seu pai.
Os sucessivos contactos com os portos onde o navio atraca
fazem-no transmitir as impressões que sente, não isentas dos juízos de valor,
que sobre a paisagem e as populações recaem.
O texto dá a conhecer a orientação de uma rota
oceânica em direção ao Sul, relata as condições de viagem e, por fim, os locais
de instalação no destino final.
Uma escrita silenciosa, que data de há mais de um
século, faz-nos chegar não só uma informação inédita como o sentir de um "emigrante"
que procura encontrar sucesso.
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